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A avaliação de Edmar Bacha, um dos "Pais do Real", é de que "o Brasil sempre foi um país muito fechado ao comércio exterior".
Em uma análise histórica, observa que "durante 100 anos, o Brasil exportava praticamente só café. Só nos livramos desse monopólio do café nas exportações dos anos 1960 em diante".
"E mesmo hoje, nossa pauta é praticamente toda ligada a produtos primários. A nossa indústria tem muita dificuldade de participar das cadeias internacionais de valor", pontuou em entrevista exclusiva à CNN.
O economista afirma que a média global da relação entre exportação e PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas geradas por uma nação) é da ordem de 60%, enquanto aqui no Brasil é menor que 20%. Segundo o economista, este é um fenômeno que trava o desenvolvimento do país.
"O fato de a economia do Brasil ser muito fechada para o comércio exterior cria muitos problema. Uma coisa importante para uma empresa ter produtividade e crescer é ter um mercado amplo para ela poder ter economia de escala. Se ela está limitada ao mercado interno, especialmente em concorrência com outros fabricantes, ela não tem possibilidade de ganhar muita escala."
Edmar Bacha, economista, um dos formuladores do Plano Real
"Essa questão das empresas brasileiras na área industrial e de serviços estarem voltadas somente para o mercado interno faz com que o crescimento da produtividade da economia seja limitado e não consiga superar a armadilha da renda média", pontuou.
Com uma economia mais isolada, as empresas nacionais deixam, em alguns casos, de competir diretamente com marcas estrangeiras, limitando a concorrência e, consequentemente, a pressão para que melhorem seus produtos, segundo Bacha.
Para o país poder ter uma economia que cresce sustentavelmente, com produtividade, o economista afirma que é essencial um "mercado amplo para ter economia de escala".
"Todo esse conjunto de circunstâncias de uma economia fechada ao comércio exterior limita muito o crescimento das nossas empresas, principalmente na área da indústria e dos serviços", ressaltou.
Ademais, sinaliza que a abertura de mercado seria importante para o país acessar tecnologias mais desenvolvidas, também essenciais para que as empresas se desenvolvam.
"O que falta é basicamente a possibilidade de as empresas terem [...] acesso à última tecnologia, ou seja, a bens de capital e insumos modernos que estão disponíveis em outros países e não aqui", afirmou.
"As empresas precisam utilizar tecnologia de último modelo se querem poder exportar. E para isso precisa poder importar insumos e bens de capital do exterior e tem muita dificuldade de fazerem isso no Brasil", concluiu.
CNN