Brasil modera tom sobre tropas perto da Venezuela para não provocar Trump
REUTERS/Evelyn Hockstein
Apesar de estar preocupado com o envio de navios de guerra e um submarino nuclear para o sul do Caribe, perto da costa da Venezuela, pelos Estados Unidos, o governo brasileiro tem evitado fazer críticas contundentes à iniciativa para evitar uma maior crise com a administração de Donald Trump.
Pressionado nas últimas semanas pelas tarifas de 50% impostas pela Casa Branca, que critica o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Brasil teve que "escolher suas batalhas" e optou pela postura mais cautelosa diante da militarização da região, segundo fontes do Itamaraty e do Planalto ouvidas pela CNN.
A opção do Brasil foi por uma nota conjunta com os países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que expressava "profunda preocupação com a recente mobilização militar extra-regional na região", lembra da proclamação da região como zona de paz e do Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe.
O comunicado, que já nasceu enfraquecido pela ausência de vários membros do bloco, que cortaram ou têm relações mínimas com Nicolás Maduro, como Argentina, Paraguai, Panamá, El Salvador e Peru, perdeu adesão parte dos países, entre eles o Brasil, por sua publicação antes do prazo acordado entre as diplomacias.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a se manifestar sobre o tema na cúpula virtual do Brics, na última semana, citando o acordo de 1968 entre os países latino-americanos e caribenhos para tornar a região livre de armas nucleares.
"Há quase 40 anos somos uma Zona de Paz e Cooperação. A presença de forças armadas da maior potência do mundo no Mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região", expressou na ocasião.
De acordo com as fontes, a frustração com a falta de transparência do processo eleitoral venezuelano não incidiu na opção pelo tom mais moderado.
Apesar do não reconhecimento da alegada vitória de Maduro nas eleições do ano passado, a CNN apurou que o diálogo entre Itamaraty e Caracas é permanente e "correto".
Fontes do governo, no entanto, não descartam um pronunciamento futuro mais contundente diante de novos desenvolvimentos, por considerarem que a presença militar perto da costa sul-americana ameaça a soberania da região.
A CNN apurou que o assunto pode ser mencionado, inclusive, no discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, na semana que vem. O martelo, no entanto, ainda não foi batido.
Até o momento, a decisão é de "não cutucar a onça com vara curta".
cnnbrasil