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A formação histórica de Rondônia, construída por levas de imigrantes com divisões étnicas e sociais claras desde a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, ajudou a moldar uma hierarquia racial que persiste. Essa é uma herança dolorosa que teima em não passar e se manifesta de muitas formas, da violência explícita ao direito negado.
Para entender a profundidade desse problema, o encontro de cem jovens lideranças indígenas de Rondônia, Amazonas e Mato Grosso, realizado em Porto Velho, serviu como termômetro de um problema resistente. Os relatos colhidos são de uma violência que muitas vezes não grita, mas sussurra.
Kim Suruí, uma das jovens participantes, destacou a solidão de ser minoria. "A gente sofre muito preconceito, principalmente os indígenas que estão no contexto urbano", relatou. A dificuldade de acesso ao emprego formal e a sensação de invisibilidade em espaços de poder são queixas constantes.
Quando saem de suas comunidades, os indígenas se deparam com a violência simbólica do preconceito, que nega suas identidades e saberes. Tom Cinta Larga complementa: "O pessoal olha com preconceito, acha que a gente não tem estudo, não tem educação". Jefferson Tupari Macurap também narrou experiências de discriminação no ambiente acadêmico: "Na faculdade, a gente sofre muita discriminação por ser indígena".
Presente no encontro, a ativista Neidinha Suruí, uma das mais respeitadas defensoras dos direitos indígenas no país, há décadas trava uma batalha contra este apagamento. Ela ouviu os relatos da nova geração, que segue enfrentando o racismo adaptado aos tempos modernos, mas não menos cruel.
Do ponto de vista jurídico, a presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB/RO, Dra. Rafaela Albuquerque, reforça que a discriminação é um problema enraizado e complexo. "Nós temos um racismo estrutural, institucional e o individual, que são formas diferentes de violação de direitos", explicou.
Para tentar mudar essa realidade desde a base, a Comissão da OAB partiu para a ação com uma das frentes de trabalho focada em educar para combater. Foi criada uma cartilha de letramento racial, um material didático e gratuito desenvolvido para ampliar o entendimento sobre o racismo entre advogados, servidores públicos, estudantes e toda a sociedade.
A resistência segue por muitos caminhos, seja na organização da juventude indígena, seja na força da cultura ancestral. O combate ao racismo é uma luta diária e contínua. A mensagem de Neidinha Suruí é de união: "Que a gente possa caminhar unido, porque sozinho a gente não consegue lutar contra essas coisas".
Natália Figueiredo - Portal SGC