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Preservar ou Produzir? O Desafio da Resex Jaci-Paraná

Confira o editorial


O impasse na Reserva Extrativista Jaci-Paraná exemplifica um dos maiores desafios da gestão ambiental brasileira: o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento socioeconômico. A recomendação do Ministério do Meio Ambiente para suspender cadastros rurais e Guias de Transporte Animal expõe a complexidade dessa questão que afeta diretamente milhares de vidas e o futuro da região.

Por um lado, temos a função original da Resex: proteger o modo de vida tradicional de seringueiros e pescadores, preservando os recursos naturais. A ocupação por atividades pecuárias representa um desvio dessa finalidade, podendo comprometer a biodiversidade local e os serviços ambientais prestados pela reserva. A preservação desses espaços é fundamental para manter o equilíbrio ecológico e garantir a sobrevivência das comunidades tradicionais que dependem desses recursos.

Contudo, não podemos ignorar a realidade consolidada ao longo de duas décadas. Cerca de 250 mil cabeças de gado e centenas de famílias estabeleceram suas vidas na região, contribuindo significativamente para a economia local. A suspensão abrupta das GTAs ameaça não apenas essas famílias, mas também o status sanitário de Rondônia como área livre de febre aftosa, uma conquista obtida após anos de rigoroso controle e investimentos significativos.

O cenário atual demanda uma análise profunda das consequências sociais, econômicas e ambientais de qualquer decisão. A simples remoção das famílias ou a interrupção imediata das atividades pecuárias poderia desencadear uma crise socioeconômica na região, além de possíveis conflitos sociais. Por outro lado, a manutenção irrestrita da situação atual compromete os objetivos de conservação da reserva.

A solução para este impasse requer uma abordagem equilibrada e gradual. É necessário considerar tanto a regularização das áreas já ocupadas quanto a preservação das áreas remanescentes. Um plano de transição que inclua compensações ambientais, práticas sustentáveis de pecuária e alternativas econômicas para as comunidades tradicionais pode ser um caminho viável.

O diálogo entre autoridades, moradores e ambientalistas é fundamental neste processo. A participação de parlamentares e gestores locais nas discussões demonstra a disposição em buscar alternativas que contemplem todos os interesses envolvidos. É crucial estabelecer um cronograma realista para implementação das mudanças necessárias, com metas claras e mecanismos de monitoramento.

O caso da Resex Jaci Paraná pode se tornar um exemplo de como resolver conflitos socioambientais de forma responsável e sustentável, desde que haja compromisso de todas as partes envolvidas em encontrar uma solução que respeite tanto as necessidades humanas quanto a preservação ambiental.

Diário da Amazônia

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